23 de jul. de 2014

Cresce o número de denúncias por abuso sexual no Vale do Taquari

Vale do Taquari - Polícia 

Nos primeiros seis meses deste ano, 11 denúncias de abuso sexual chegaram à Delegacia de Polícia (DP) de Teutônia. O número é igual ao registrado em todo o ano passado. No mesmo período, o Conselho Tutelar do Município registrou 17 suspeitas.


Foto: Divulgação

Apesar de surpreender, na opinião dos órgãos responsáveis por receber e investigar as denúncias, o crescimento das queixas de violência sexual não representa, necessariamente, o aumento do número de casos, mas, sim, dos que chegam ao conhecimento da polícia.

Conforme o titular da DP de Teutônia, Humberto Messa Röehrig, as pessoas podem estar denunciando mais, encorajadas por campanhas de conscientização sobre a violência sexual.

Palestras

Em maio do ano passado, mais de 2,2 mil estudantes de educação infantil e ensino fundamental de 15 escolas de Teutônia participaram de palestras promovidas pela Secretaria Municipal de Educação, por meio do projeto "Carinho de Verdade - Enfrentamento à Violência e à Exploração Sexual Infantil".

Com uma linguagem adequada à faixa etária das crianças e dos adolescentes, abordaram-se questões sobre a violência sexual, a importância de denunciar os abusos e os meios para buscar ajuda. "Explicamos sobre a diferença entre um carinho de verdade e as formas como um abusador se aproxima da criança", conta a orientadora educacional Rosa Maria Schneider, que coordenou o projeto junto com a psicóloga Daniele Scheer.

De acordo com Rosa, após a campanha foi possível perceber que os alunos ficaram encorajados e mais confortáveis para tratar do assunto e procurar ajuda. "Eles se sentiram 'empoderados'".

A policial Neusa Teresinha Henz, que recebe as denúncias de violência sexual na DP de Teutônia, também percebe os reflexos dessa sensibilização. "É a partir do trabalho que as escolas fazem que muitas vítimas tomam coragem. Muitas relatam isso", comenta.
Além da campanha realizada nas escolas municipais, outro trabalho foi realizado com servidores da rede de educação, saúde e assistência social de Teutônia.

A ação teve o objetivo de capacitar profissionais que atendem a população em diferentes serviços públicos. "O quadro precisa estar preparado para receber a denúncia, para que saiba como proceder e encaminhar o caso", salienta o conselheiro tutelar Eduardo Röhsig. Para ele, essa postura permite que fatos já estavam acontecendo sejam detectados e cheguem ao conhecimento do conselho e da polícia.

Caminho da denúncia

A denúncia de casos ou suspeita de abuso sexual pode ser feita de forma anônima, por telefone ou pessoalmente no Conselho Tutelar. Também é possível fazer o registro diretamente na delegacia ou pelo Disque 100 - canal para denúncias de abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes. Os casos que chegam ao Conselho Tutelar são encaminhados à Polícia Civil, responsável pela investigação.

Durante a investigação de violência sexual, crianças e adolescentes são submetidos a exames no Departamento Médico Legal (DML) e à avaliação psicológica. Quando o caso de abuso é confirmado, as vítimas retornam ao Conselho Tutelar para receberem acompanhamento e serem encaminhadas para atendimento psicológico e assistencial.

Na região, órgãos como Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), Centro de Atenção Psicossocial (Caps) e Casa Mental dão suporte às vítimas.

A coordenadora do Conselho Tutelar de Lajeado, Rejane Junqueira, explica que a criança não retorna para o mesmo local do abusador. Em casos que o agressor reside na mesma casa que a vítima, ele é afastado por medida judicial ou a criança é encaminhada para residir com um familiar, em outro local, ou em uma instituição.

Paralelo às ações de proteção e atendimento à vítima, quando o abuso é confirmado, os acusados são indiciados e o caso é encaminhado ao Judiciário.

Números na região

Encantado - Sete casos em investigação

Estrela - Seis denúncias (Dois casos indiciados, quatro casos não indiciados)

Lajeado - 28 denúncias (18 de Lajeado e dez de municípios abrangidos pela 19ª DRP)

Taquari - Dois casos indiciados

Teutônia - 11 denúncias (Sete indiciados, três em investigação e um não indiciado)

*Dados referentes ao primeiro semestre de 2014, fornecidos pelas Delegacias de Polícia de Encantado, Estrela, Taquari e Teutônia, e pela Delegacia de Polícia Especializada no Atendimento à Mulher de Lajeado.

Vítimas x Agressores

Com base em registros das delegacias e conselhos tutelares da região é possível traçar um perfil das vítimas de abuso sexual. Em geral, são meninas de 3 a 14 anos. A maioria dos abusos ocorre em ambiente doméstico e é praticada por homens que têm vínculo afetivo com as vítimas: pais, padrastos, avôs, tios e vizinhos ou amigos da família. Casos de estupro praticados por estranhos são exceção.

Segundo o delegado de Polícia de Teutônia, Humberto Röehrig, é possível observar diferenças na forma de agressão. Quando o agressor é ligado à vítima - parente, vizinho ou amigo da família -, em geral utiliza artifícios como brinquedos, presentes e doces para se aproximar da vítima. "Quando o adulto não tem relação direta com a vítima, geralmente o abuso é com violência. Mas quando é próximo, o agressor tenta passar a ideia de que não se trata de uma violência", observa.


Após o período de "sedução" da vítima e do abuso, iniciam-se as ameaças para que a criança ou o adolescente não conte sobre o ocorrido.

De acordo com a coordenadora do Conselho Tutelar de Lajeado, Rejane Junqueira, proteger os filhos de abusos sexuais exige que os pais estejam atentos às pessoas que convivem com a família e têm acesso à criança. "Em muitos casos, o abusador é conhecido da família", salienta a conselheira.

Röehrig também alerta para a responsabilidade legal de os pais denunciarem a suspeita de abuso com os filhos. Mesmo que não ocorra a relação sexual completa, se houver contato com órgãos genitais do abusador e/ou da vítima, a ação configura-se como estupro. "Quando os responsáveis sabem que a criança é abusada e não tomam providências, vão responder, igualmente, por abuso sexual."

Fique atento

A identificação de casos de abuso sexual não é fácil. De acordo com a psicóloga Ciméri Saraiva Lampert, da 19ª Delegacia Regional de Polícia (19ª DRP), com sede em Lajeado, há uma linha muito tênue entre comportamentos que sinalizam que a criança sofre violência sexual e ações que fazem referência a situações que ela assistiu na televisão, por exemplo. Entretanto, alusão a gestos sexuais durante brincadeiras ou conduta sexualizada merecem atenção.

De acordo com a psicóloga, entre os sinais que podem indicar a violência sexual estão o desânimo da criança e o isolamento, que podem desencadear depressão e até mesmo tentativas de suicídio. Além disso, em alguns casos, pode haver mudança no desempenho escolar.

Ciméri também destaca a dificuldade nos relacionamentos afetivos como manifestação da vítima. Além de isolar-se, ela apresenta resistência em receber ou manifestar demonstrações de carinho. A profissional orienta que as famílias busquem auxílio junto aos órgãos competentes ao desconfiarem que a criança ou o adolescente possa ter sido vítima de violência sexual, para esclarecer a dúvida.

Como denunciar

- A denúncia de violência sexual pode ser feita diretamente na Delegacia de Polícia (DP) ou no Conselho Tutelar, que realiza os encaminhamentos para a DP. O Conselho Tutelar de Lajeado possui telefone de plantão: (51) 9865-7430. O Disque 100 também é uma opção 24 horas para as denúncias. É importante que seja informado o endereço completo na denúncia, para facilitar o trabalho do Conselho Tutelar e a proteção às vítimas.

- Em casos de estupros que acabaram de acontecer, as vítimas ou familiares podem ligar para a Brigada Militar, agilizando a prisão do acusado e o encaminhamento na delegacia.

- A vítima deve procurar ajuda com pessoas de confiança. Além da família, professores e profissionais de saúde podem orientá-la sobre como deve proceder e auxiliá-la a realizar a denúncia.

O Informativo

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