O Ministério Público (MP) ajuizou ação pedindo a
recolocação do monumento em homenagem ao ex-presidente Arthur da Costa e Silva
às margens da Lagoa Armênia. A decisão ocorreu nesse dia 18, na data em que a
morte do ditador completou 45 anos.
A estátua foi retirada na terça-feira pela
administração municipal, após divulgação do relatório da Comissão Nacional da
Verdade (CNV), que atestou os crimes cometidos pelo Regime Militar. A remoção
repercutiu nos noticiários de todo o país e causou polêmica na cidade.
No entendimento do promotor João Pedro Togni, do MP
de Taquari, a remoção fere o artigo 216 da Constituição Federal. Conforme o
texto, os bens de natureza material e imaterial que fazem referência à
identidade, ação e memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira devem ser protegidos.
“O fato é que ele foi presidente e representa a
história do povo brasileiro”, avalia. Para o promotor, a estátua deve se manter
no local onde foi colocada, em 1976, para que os fatos não sejam esquecidos
pelas gerações que não viveram o regime. “As coisas boas devem servir de
exemplo e as ruins precisam ser lembradas para que não se repitam.”
Togni também questiona a forma como a ação foi
realizada pelo Executivo. “A intenção foi de destruir e não houve discussão com
a comunidade”, afirma. Ontem de manhã, ele visitou a Casa Costa e Silva e
criticou o local para onde o busto foi levado. “Está abandonado no subsolo de
um museu que tem horários restritos para visitas.”
O local abriga acervo com objetos pessoais, móveis
e vestuário da família do marechal. A administração municipal pretende expor o
busto do ex-presidente junto a uma cópia do relatório da CNV. Na Casa Costa e
Silva, também está a biblioteca municipal e a Sala Açoriana, com objetos que
remontam à colonização da cidade.
O prefeito Emanuel Hassen de Jesus, o “Maneco”,
afirma que a retirada do monumento das margens da Lagoa Armênia foi decidida
por líderes do governo e vereadores da base aliada. “Foi uma decisão
administrativa normal”, classifica.
Para Maneco, as mudanças no espaço público fazem
parte das atribuições do Executivo e a polêmica é exagerada. “Sabíamos que
algumas pessoas seriam contra, mas não imaginava tamanha repercussão”, afirmou.
O prefeito lembra que as manifestações da
comunidade, hoje permitidas, eram negadas pelo regime no qual Costa e Silva
exerceu o cargo de presidente. Ele ressalta que a decisão foi tomada após os resultados
da CNV, que responsabilizaram o ex-presidente pelos crimes cometidos na
ditadura.
Durante o ato de retirada do monumento, a
aposentada Nair Reis dos Santos, 76, era uma das pessoas mais exaltadas. “Ontem
(terça-feira) vivenciei um terrível momento da nossa história”, conta. Ela foi
vizinha da irmã do marechal, Sofia da Costa e Silva, e considera a família uma
das mais tradicionais da cidade.
Entre as lembranças de Sofia, Nair destaca o hino
do centenário do município, composto pela irmã do ditador. “A letra demonstra o
amor que a família nutria pela nossa cidade”, ressalta. Outra memória é sobre a
religiosidade dos Costa e Silva. “Tinham muita fé em Deus e em Jesus Cristo.”
A relação com os familiares do ex-presidente
aumentou a perplexidade de Nair ao ver a máquina do município derrubar a
estátua. “Perdi a compostura quando me deparei com a cena”, relata. Para ela, o
ato foi um espetáculo, armado para saciar aqueles que eram contra o regime.
“São pessoas que nunca souberam o que é esta nossa terra.”
A aposentada relata uma série de empreendimentos na
cidade que tiveram a colaboração do ditador. Cita a Rodovia Aleixo Rocha da
Silva, inaugurada por Costa e Silva e que leva o nome do pai do ex-presidente.
“As máquinas que tiraram a estátua deveriam retirar também o asfalto.”
Outras obras, como o pavilhão Presidente Arthur da
Costa e Silva, construída para abrigar a Festa Nacional da Laranja, e a
infraestrutura ao redor da Lagoa Armênia também tiveram a colaboração do
ditador, afirma. Nair também credita a ele a criação da Cooperativa de
Eletricidade Rural de Taquari (Certaja).
O ex-professor e advogado Ney Arruda atuou como
representante da região durante o governo militar. Teve papel importante na
implantação da atual Fuvates, criada como Associação Pró-Ensino Universitário
Vale do Taquari na época em que o presidente era Costa e Silva.
Sobre a derrubada do monumento em homenagem ao
marechal, Arruda comenta: “Acho que foi um procedimento apressado. Por ser um
cidadão da cidade, no mínimo, os familiares deveriam ter tido o direito de
defendê-lo.”
Na opinião de Arruda, a Comissão da Verdade merece
respeito por esclarecer uma parte da história do país. “Mas se achar no direito
de quebrar a estátua, penso ser um excesso.” Para o professor aposentado, o
caminho mais correto deveria ter sido uma discussão ampla com a sociedade.
“Pelo que sei não foi dada essa oportunidade."
Segundo Arruda, o relatório não tem valor decisivo,
pode ser usado para pressionar alguma mudança na lei para que a anistia seja
revogada. “Foi uma atitude emocional, respeitável, mas apressada”, frisa.
Em 1969, Costa e Silva inaugurou a RS-436,
conhecida como Rodovia Aleixo Rocha da Silva. Arruda participou da cerimônia.
Na ocasião, o professor recebeu uma ligação de Jorge Furtado, secretário-geral
do Ministério da Educação, para que participasse do ato. Naqueles anos, líderes
da região articulavam com o governo a abertura de uma faculdade em Lajeado, diz
Arruda.
“Fui de fatiota branca e na entrada, em um
descampado, o presidente e demais integrantes chegaram de helicóptero. Isto
pegou todos desprevenidos. Minha roupa ficou vermelha. Em seguida, fui
cumprimentar o presidente e recebi do Furtado uma maleta com orientações de
como abrir o curso superior na nossa região.”
De A Hora, de Taquari
Nenhum comentário:
Postar um comentário